sábado, 2 de fevereiro de 2013

Racismo não é mal-entendido

“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra.
  Bob Marley

Tenho grande admiração por Norman Rockwell (artista e ilustrador estadunidense) que sempre se posicionou sobre a luta pelos direitos civis. Não por acaso escolhi uma de suas famosas obras para ilustrar esse post que dedico a todos que não se enxergam como racistas num país onde mais de 90% das pessoas afirmam conhecer um racista. E para aqueles que, diante da discriminação contra uma criança,  desrespeitam a diversidade humana sob o argumento de que a miséria é uma só. 

Recentemente uma ordem foi assinada pelo coronel Ubiratan de Carvalho Goes Beneduccir em Campinas (SP) determinando a abordagem de suspeitos de "cor parda e negra", acusados de praticarem assaltos em residências em um bairro nobre da cidade. Apesar de vivermos numa democracia racial, deixe-me tossir, pois não acredito que escrevi isso. Nós ainda estamos engatinhando nesse processo e à duras penas.



Detalhe. New Kids in the Neighborhood, Norman Rockwell, 1967
Norman Rockwell Museum Archival Collections


A obra e o tema são tão complexos que a discussão poderia se estender até amanhã. Mas há um detalhe que impressiona. Lá pelas tantas, no canto superior esquerdo, uma pessoa branca assiste à cena com apreensão, talvez racismo. 



Detalhe. New Kids in the Neighborhood, Norman Rockwell, 1967
Norman Rockwell Museum Archival Collections


Num país que se pretende uma democracia racial, onde o preconceito segue invisível e a discriminação institucional costuma não ter nome e nem sobrenome, o presente documento é de uma importância ímpar. Sabemos não somente onde e quando a ordem racista foi redigida, mas também por quem e com que finalidade.

Apesar disso, houve quem argumentasse que estavam procurando suspeitos de um crime em especial, o que oxalá será prontamente desmentido com a leitura integral do texto. Está plenamente caracterizada a ofensa não a uma pessoa ou (mais) pessoas, mas sim uma agressão a um grupo indeterminado de indivíduos com base em sua cor de pele.

O que nos parece é que, se fosse o caso de uma diligência em específica, maiores informações teriam sido acrescentadas ao texto. Nesse panorama hipotético, não faz sentido ampliar o número de suspeitos para um universo tão grande como pardos e negros. Se alguém estivesse na mira, teriam sido tomadas precauções para que as abordagens fossem dirigidas a esse alguém.

Mesmo que a discriminação não tenha sido a intenção da Polícia Militar de Campinas, ficou caracterizado o preconceito para com negros, crimes inafiançáveis que o opressor costuma minimizar chamando de mal-entendido.

O comando da polícia militar, ao invés de punirem com severidade seus funcionários e se desculparem com os ofendidos, foram ainda mais racistas ao tentarem explicar (e negar) o inexplicável. Ao deixarem de lado a hipótese de retratação, demonstraram que esses episódios foram tudo, menos um simples mal-entendido. Já está mais que na hora de inventarem outra desculpinha menos mequetrefe porque essa já está muito surrada.

Por João Elter Borges Miranda





Nenhum comentário:

Postar um comentário