terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

A caminho da moralidade

        Atendendo ao princípio da moralidade, disposto no artigo 37 da Constituição Federal como um dos Princípios da Administração Pública (os quais incluem ainda a legalidade, a impessoalidade, a publicidade e a eficiência), diversas Câmaras Legislativas têm aprovado Lei que impede a nomeação de servidores que se enquadram nos casos da Lei Complementar nº 135/2010 (a Ficha Limpa). É esse o caso da Câmara Municipal de Goiânia e da Assembléia Legislativa de São Paulo.

     Nesse mesmo viés, há rumores de que a Promotoria de Justiça de Cachoeira Alta enviou recomendação ao Legislativo Municipal para que elabore, em curto prazo, Projeto de Lei que proíba cidadãos inelegíveis (os famosos fichas-sujas) de ocupar cargos comissionados na Administração Pública. A chamada de Lei da Ficha Limpa municipal, caso entre em vigor, pode obrigar o atual Prefeito a fazer substituições em sua equipe, assim como ocorreu no período eleitoral. Lembrando-se que são apenas rumores. Esperemos atentos os seus desdobramentos. 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Boxe amador em Cachoeira Alta


Por Irineu Moreira da Costa

Nos meus primeiros anos em Cachoeira Alta, apesar da pequenez do lugar, acontecia ali fatos interessantes, mesmo em que pese o isolamento a que estava submetida pela falta de comunicação adequada. Contudo, a cidade pulsava e a vida seguia o seu curso normal de acordo com os ditames da época. A interação dos moradores era da mais proveitosa, visto que não havia a violência que existe que atualmente. Todos se conheciam e eram amigos, inclusive os jovens com toda a energia própria da idade.

Determinado dia apareceu, na cidade, uma pessoa de fora conduzindo em sua bagagem o material necessário à realização de luta de boxe. Essa pessoa organizou todo o cenário para a realização das lutas, cenário esse constante de uma espécie de ring e local para uma pequena plateia. Tudo erguido dentro de um barracão de festas da igreja católica, se não me engano. Como Cachoeira Alta naquela época oferecia poucas opções de lazer além do esporte com bola, a notícia da previsão de lutas de boxe foi alvissareira. Impetuosos, vários jovens se prontificaram a lutar, mesmo sem técnica nenhuma e sem treinamento. Seria, pois, lutas pra lá de amadoras, tudo na bruta!

Vale ressaltar, aqui, que tais jovens eram todos da comunidade cachoeiraltense e "bons meninos", conforme diriam os mais velhos. A participação no evento seria apenas para descarregarem energias, tudo no âmbito do espírito esportivo. Fui um dos componentes da plateia num determinado dia de lutas. 
Naquele dia compareceram vários jovens com a incrível disposição para uma troca de "porradas", conforme diriam os amantes da gíria.

Não me lembro dos nomes de todos os jovens que compareceram para a refrega, mas, apenas os de alguns, os quais foram: 1) Evangelista Tiago (hoje meu cunhado); 2) Valdezino Paula (um amigo e parente meu), 3) Lourival, distinto jovem do lugar; 4) Mutuca ou Mutuquinha, da família Pires; 5) Zé de Tota, dentre outros.

Existiam pessoas encarregadas para amarrarem as luvas nas mãos dos lutadores, bem como um assistente que desempenhava a função de juiz. Porém, tudo a grosso modo. O local para abrigar a plateia ficou lotado de curiosos que se movimentavam e torciam. Em dado momento teve início o espetáculo com lutas preliminares, as quais, eram socos para lá e pra cá como se fosse uma briga ferrenha, visto que a ânsia de vencer de cada lutador era muito grande.

A falta de técnica no atacar e se defender fazia a luta ficar aberta e brutal, já que, quanto mais socos o lutador recebia mais ele queria devolvê-los ao seu opositor. Alguns caíam no chão, outros pulavam fora, desistinto da luta ante a saraivada de socos que lhes castigavam cruelmente. O lutador saía com manchas roxas pelo corpo, tal era o infernal castigo. A plateia aplaudia e gargalhava a cada lance dramático. O Sr. Teófilo Cachapuz, já falecido, vibrava e dizia: "Mas, que espetáculo bom, gente! Eu pago a entrada e fico satisfeitíssimo!".


O jovem Mutuca, ou Mutuquinha, era um bom lutador. Parecia que ele conhecia alguma técnica, visto que o seu desempenho era bom. De vez em quando ele disparava uma saraivada de socos no adversário, que, ante o castigo, não esperava pelo juiz: desistia da luta por conta própria, pulando fora do raio de ação dele. 
Não me lembro com quem Zé de Tota lutou. Só sei que na luta ele recebeu um tremendo soco no peito. Em consequência, estatelou-se no piso de cimento, onde ficou a espernear. O pequeno público se erguia e delirava. Zé de Tota abandonou a luta com o peito manchado de roxo.

Evangelista e Valdezino também se engalfinharam numa luta titânica. As rajadas de socos que cada um disparava e recebia, com os braços cruzando pra lá e pra cá, foi um espetáculo sem paralelo. Ao saltitar na troca de sopapos Valdezino caiu. Porém, levantou-se rapidamente e aplicou uma tremenda "porrada" no rosto do Evangelista que teve o seu nariz quebrado na hora. Com isso, a luta dos dois terminou.
Lourival, com muita disposição, também lutava bravamente, mas não me lembro com quem.

O enfrentamento foi duro! Os "pou, puf, páf", sons dos sopapos trocados, eram rápidos e constantes numa luta de peito aberto e bruta. Ao receber uma tremenda pancada que o fez ver vaga-lumes e estrelas, Lourival pulou fora com os dois braços esticados para a pessoa que amarrava e desatava as luvas, dizendo enfaticamente: "Tiiiira, tira, tira estas luvas das minhas mãos! Tira, tira! Não quero lutar mais não!". Com essa atitude repentina e cômica a galera foi ao delírio. Teófico Cachapuz vibrava e dizia: "Isso aqui tá bom demaaaaiis!". "Eu pago o ingresso e acho barato!".

Faço aqui um elogio a estes bravos jovens, haja vista a compreensão deles de que estavam apenas praticando um esporte, e não brigando. Por isso, não vislumbrei nenhuma falta de paciência ou mágoa entre eles. Tudo foi uma festa a acontecer nos parâmetros do espírito esportivo. 
Se alguém notar alguma afirmação incorreta aqui, peço que faça a correção, desde que seja pessoa que presenciou o evento aqui reportado. 

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Racismo não é mal-entendido

“Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra.
  Bob Marley

Tenho grande admiração por Norman Rockwell (artista e ilustrador estadunidense) que sempre se posicionou sobre a luta pelos direitos civis. Não por acaso escolhi uma de suas famosas obras para ilustrar esse post que dedico a todos que não se enxergam como racistas num país onde mais de 90% das pessoas afirmam conhecer um racista. E para aqueles que, diante da discriminação contra uma criança,  desrespeitam a diversidade humana sob o argumento de que a miséria é uma só. 

Recentemente uma ordem foi assinada pelo coronel Ubiratan de Carvalho Goes Beneduccir em Campinas (SP) determinando a abordagem de suspeitos de "cor parda e negra", acusados de praticarem assaltos em residências em um bairro nobre da cidade. Apesar de vivermos numa democracia racial, deixe-me tossir, pois não acredito que escrevi isso. Nós ainda estamos engatinhando nesse processo e à duras penas.



Detalhe. New Kids in the Neighborhood, Norman Rockwell, 1967
Norman Rockwell Museum Archival Collections


A obra e o tema são tão complexos que a discussão poderia se estender até amanhã. Mas há um detalhe que impressiona. Lá pelas tantas, no canto superior esquerdo, uma pessoa branca assiste à cena com apreensão, talvez racismo. 



Detalhe. New Kids in the Neighborhood, Norman Rockwell, 1967
Norman Rockwell Museum Archival Collections


Num país que se pretende uma democracia racial, onde o preconceito segue invisível e a discriminação institucional costuma não ter nome e nem sobrenome, o presente documento é de uma importância ímpar. Sabemos não somente onde e quando a ordem racista foi redigida, mas também por quem e com que finalidade.

Apesar disso, houve quem argumentasse que estavam procurando suspeitos de um crime em especial, o que oxalá será prontamente desmentido com a leitura integral do texto. Está plenamente caracterizada a ofensa não a uma pessoa ou (mais) pessoas, mas sim uma agressão a um grupo indeterminado de indivíduos com base em sua cor de pele.

O que nos parece é que, se fosse o caso de uma diligência em específica, maiores informações teriam sido acrescentadas ao texto. Nesse panorama hipotético, não faz sentido ampliar o número de suspeitos para um universo tão grande como pardos e negros. Se alguém estivesse na mira, teriam sido tomadas precauções para que as abordagens fossem dirigidas a esse alguém.

Mesmo que a discriminação não tenha sido a intenção da Polícia Militar de Campinas, ficou caracterizado o preconceito para com negros, crimes inafiançáveis que o opressor costuma minimizar chamando de mal-entendido.

O comando da polícia militar, ao invés de punirem com severidade seus funcionários e se desculparem com os ofendidos, foram ainda mais racistas ao tentarem explicar (e negar) o inexplicável. Ao deixarem de lado a hipótese de retratação, demonstraram que esses episódios foram tudo, menos um simples mal-entendido. Já está mais que na hora de inventarem outra desculpinha menos mequetrefe porque essa já está muito surrada.

Por João Elter Borges Miranda





sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Do "Fica" à brachiara


Por Irineu Moreira da Costa

Prezados cachoeiraltenses! Aqui estou novamente a fim de trazer a lume alguns aspectos da Cachoeira Alta do meu tempo, visto que tenho inúmeras histórias dessa cidade, algumas violentas, outras bizarras e, ainda, algumas curiosas. Irei contá-las em doses homeopáticas para não tumultuar esta página e não cansar o leitor. 

Hoje, abordo a questão rural. Nos meus primeiros anos a principal atividade econômica do município era tipicamente rural. Todavia, era uma atividade incipiente em que a maioria dos fazendeiros, principalmente de médios e pequenos proprietários, não faziam investimentos modernos para obtenção de maiores lucros. Alguns proprietários eram tão conformados com o seu fraco padrão de vida que se davam por satisfeitos por criarem gado no cerrado e nas croas com algum vegetal comestível. 

O gado era rústico, quase selvagem e de pouco valor. Criavam porcos soltos, os quais, erados, tinham suas presas tão crescidas que saíam para fora da boca, dando a impressão de que ali tinham dois punhais. O principal capim que existia para a formação de pastagens era o colonião, seguido pelo jaraguá e gordura, este encontrado nas capoeiras. Em consequência, a formação de pastagem só era possível em terras mais férteis, o que explica a não exploração das terras mais fracas, destacando-se aí os campos arenosos. 

O leite que o produtor tirava não tinha consumo, já que não havia laticínios para comprá-lo. A única saída era fazer queijos e requeijões caseiros e vendê-los, o que propiciava muito trabalho e pouco rendimento. Para embolsar alguma quantia e satisfazer as necessidades da família e da propriedade, era costume do produtor, no final do ano, vender os bezerros machos ainda mamando para entregá-los ao comprador no mês de maio seguinte. Feito o negócio, vendedor e comprador compareciam em cartório para a elaboração de um documento chamado por eles de "Fica", nomenclatura essa não prevista na doutrina e jurisprudência do direito. 
"Fica"
O cartório daquela época fazia um documento particular que, com firmas reconhecidas e devidamente registrado em Títulos e Documentos, tinha valor jurídico. No documento era mencionada a palavra "Fica", com isso enfatizando que o vendedor fulano de tal FICA na obrigação de entregar ao comprador a quantia de tantos bezerros, do meio acima, sem defeitos físicos, sadios, etc., etc. 

Todos os anos eu elaborava esses ficas, ao lado de outros como contratos, IBRA, INCRA, para os produtores rurais. Com o advento de outras espécies de capins, como a brachiara, umidícula e andropogon, próprios para terra fraca, grande foi a euforia dos produtores diante do resultado positivo. As terras, inclusive as fracas, foram altamente valorizadas e os fazendeiros aumentaram em muito a área de pastagens, o que resultou em lucratividades maiores e atraiu os laticínios para o município. O Laticínio Marajó foi, ao que me lembro, o primeiro a se instalar e a comprar leites, fazendo, com isso, cessar a venda antecipada de bezerros. Os "Ficas" também desapareceram.

Existia também a figura do negociante de gado bovino, pessoa que comprava reses e as vendia aos frigoríficos, ganhando a sua margem de lucros. Acredita-se que, por falta de informações, os produtores vendiam suas reses por preço inferior ao de mercado, propiciando, assim, lucros ao comerciante de reses.

O aumento das pastagens e do rebanho bovino fez aquecer o setor. Por isso, muitas pessoas se dedicavam ao negócio, bem como corretores diversos, tanto de gado como de terra. Ao lavrar uma escritura de compra e venda de terra grande era o número de pessoas a comparecerem no cartório, pois, além dos vendedores e compradores compareciam também um séquito de corretores.

Houve uma invasão de paulistas comprando terras no município, vez que em Goiás elas eram muito baratas em comparação com as terras paulistas. Muitos fazendeiros, alheios à realidade, vendiam eufóricos a sua propriedade, para, pouco tempo depois, amargarem grandes prejuízos com a valorização constante dos imóveis. Muitos ficaram pobres. Existem outros aspectos rurais da época, mas, não há espaço neste comentário para abordá-los, sob pena de tornar-me um prolixo.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Destino: educação


Por João Elter Borges Miranda


Poucos de nós têm uma vaga ideia do quanto é difícil a vida dos professores. É uma das profissões mais dignas e importantes da nossa sociedade. Entretanto, uma das mais maltratadas. E, na tentativa de facilitar um pouco a vida deles, pensei em mostrar a importância dos grupos de discussão (GD).
O GD é precisamente uma interação que não tem como objetivo a busca de consenso entre os participantes; o objetivo é recolher um grande leque de opiniões e pontos de vista que podem ser tratados extensivamente. Ao dar grande ênfase aos pontos de vista dos participantes e fomentar a discussão e o intercâmbio de ideias, o grupo possibilitará à socialização de conhecimento, e o aprofundamento dos temas propostos à discussão, o que dificilmente se consegue de outra maneira.
Acho que todas as escolas deviam ter GD. Professores de diferentes escolas podem formar GD por matérias e também os grupos gerais de discussão. Por exemplo, para os GD de matérias, todos os professores que ensinam os mesmos projetos, as mesmas disciplinas, irão se encontrar toda semana. Eles prepararão as aulas juntos para discutir progressos, pontos-chave, partes difíceis do ensino e introduzir novos conhecimentos.

Outra vantagem disso é que, se no grupo existe um ou vários excelentes professores, com professores medianos, o resultado será excelente. Os professores medianos farão muitos progressos. Entretanto, se todos os professores são do mesmo nível, os resultados não serão tão bons. É como cozinhar cenouras: mesmo que você as cozinhe a tarde inteira, elas continuarão a ser cenouras.

Talvez mais tarde, os professores possam tentar trazer ao seu grupo alguns jovens alunos. Sei que será muito difícil encontrar jovens interessados em conversar. Porém, essa aproximação, sem muitas formalidades, poderá criar um vínculo mais afetivo entre alunos e professores. O que, normalmente, não ocorre (devido, sobretudo, ao poder de avaliar do professor). E, claro, isso dará voz aos jovens, possibilitando que eles extravasem suas dificuldades que encontram na vida juvenil e na vida escolar.


Desse modo, ficarão evidentes para os professores certos dilemas e interesses juvenis. Por um lado está a vida juvenil, pessoal, própria, onde as vivências com os amigos e/ou colegas dentro e fora do espaço escolar, os tempos livres, os convívios, os afetos e, por outro, a vida escolar com seus matizes pedagógicos, profissionais e organizacionais. Talvez com muita discussão, ambos os lados encontrarão juntos medidas cabíveis que trarão o fim às dificuldades de união entre o que é do foro juvenil e o que diz respeito às aprendizagens e ao currículo escolar.

A ideia é que todos os professores estejam envolvidos em algum GD. Mesmo que apenas uma hora por semana. Mas por ano, serão quantas horas? Em dez anos, quantas horas? Com certeza todo esse trabalho será muito produtivo. E os professores também podem escrever seus próprios artigos. Nos seus artigos, eles refletem as suas experiências como professores. Depois de escreverem, eles poderão ler nos seus grupos. Assim seu conhecimento e experiência serão compartilhados com os outros.



quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Cachoeira Alta em 1966


Por Irineu Moreira da Costa

Cachoeira Alta, em 1966, ano em que me fiz mais um cachoeiraltense era ainda um lugar pequeno e encravado na roça. Porém, mesmo em que pese a sua rusticidade da época, foi um encanto para mim. Fez parte do meu passado, hoje de saudosas lembranças em minha memória. A atividade econômica predominante era a rural, ressalvados pequenos comerciantes e prestadores de serviços. Lembro-me que no início de 1966 a tão sonhada comarca ainda estava por instalar. Por isso, a referida comarca continuava sendo Rio Verde.

A pacata e estimada corrutela, ao que me lembro, tinha apenas três ruas paralelas principais: Cruzeiro do Sul (nos fundos), Belo Horizonte (no meio) e São Paulo (a mais de cima). Não havia calçamentos e, por isso, lama e poeira se alternavam. Tudo ali era muito primitivo, pois, não havia televisão, telefone, água tratada e energia elétrica, salvo a gerada por um motor diesel que era ligado do anoitecer até as 22 horas. Lembro-me muito do funcionário conhecido por "Ticreca", o qual ligava e desligava o motor gerador da energia. Antes de desligar o motor Ticreca dava alguns "piscados" nas lâmpadas a fim de avisar que no terceiro e último piscado o motor seria desligado. Por isso, era intenso o uso de lanternas nas escuras ruas da cidade. 

Roberto Carlos nos anos 60
Aparelhos de alto-falantes emitiam sons roucos e engasgados nos pequenos circos e parques, quase sempre rodando o disco da música "Calhambeque", do então jovem e cabeludo Roberto Carlos. Todos se conheciam. Sem entretenimento noturno, como a televisão, por exemplo, as pessoas saíam para as calçadas e praças, onde gostosas conversas rolavam soltas e animadas. Era um tempo muito bom! Existia a figura do padeiro que, quase sempre de carroça de tração animal equipada com uma buzina, deixava os pães nos alpendres e portas das casas no amanhecer do dia, quando os moradores ainda dormiam. O padeiro, quase sempre, recebia no final do mês.


Calçamento da Av. Presidente Vargas em 1964
 Antes da instalação de energia elétrica e de água tratada na cidade, era comum o uso de cisternas e de banhos tomados com água aquecida nos fogões de lenha. Um dos primeiros passos rumo ao desenvolvimento foi o calçamento de pedras nas ruas principais. Depois veio a energia elétrica na gestão do Prefeito Gil Barbosa de Freitas, fato que fez mudar os costumes da população, já que passaram a usar os primeiros utensílios elétricos, como geladeiras, enceradeira e outros. 

Ainda na gestão do Prefeito Gil foi dado outro passo: a instalação de um sistema telefônico de uso local muito simples, porém uma novidade para a época. Consistia ele em linhas telefônicas ligadas a uma pequena central de atendimento, onde uma "telefonista" completava as ligações. As ligações eram feitas da seguinte maneira: o proprietário pegava o seu negão (aparelho telefônico grandalhão e preto) e colocava-o no ouvido. Com isso, um sinal aparecia na pequena central, quando, então, a telefonista atendia dizendo: "Centro!". O autor da ligação solicitava: "Ligue para o número tal!". A seguir, o solicitante da ligação ouvia um barulho estridente do cabo sendo enfiado pela telefonista na tomada do telefone objeto da ligação. Completava-se, assim, a chamada telefônica.

Como todos se conheciam, era comum o autor da ligação dizer à telefonista: "Liga na casa de fulano", sem, contudo, fornecer-lhe o número do telefone. Ou, ainda, ao ligar na própria residência, o autor da ligação apenas dizia: "Lá em casa!". A telefonista conhecia todo mundo pela voz, bem como tinha na cabeça, de cor e salteado, todos os números dos telefones. Assim, começou Cachoeira Alta a caminhar rumo ao progresso. 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O bem amado

Por João Elter Borges Miranda


A minha contribuição para o projeto
Cachoeira Alta tem Histórias”. Um causo da época que eu trabalhava no mercadinho da minha família.
Quem trabalha (ou não) no comércio, sabe a loucura que é a época natalina. Todo mundo quer ser atendido ao mesmo tempo. todo mundo deixa a paciência em casa e corre pro varejo. êêê. pois bem, a cena a seguir ocorreu um dia antes do natal, ou seja, quando o caos imperava.

freguesa (em um só fôlego): Boa tarde, moço.  Eu gostaria de dar um presente para o meu futuro namorado ("futuro namorado"). é, a gente ainda não ficou ("a gente ainda não ficou"), mas é que eu estou investindo na relação... ("estou investindo na relação").

eu (respirando fundo): hm. sei.

(freguesa pega um chapéu de cowboy, uma corda e preservativos)

freguesa (com uma cara de ?): dá a entender que sou uma namorada descolada ("descolada") se eu der isso para ele?

eu (sentindo uma pontada na cabeça): hm. sim.

(satisfeita com a resposta, freguesa decide, imediatamente, levar tudo)

freguesa (ansiosa e pulando): obrigada, você me ajudou bastante!

eu (praticando a paciência budista): hm. de nada.

cai o pano.

Sabe o tipo de conversa que você só consegue prestar atenção em alguns trechos de tão absurdos que são? daí, quando a pessoa pergunta a sua opinião, você não encontra outro tipo de resposta que não seja "hm" porque aqueles pedaços marcantes continuam ecoando na sua cabeça? pois é.


O cão na matemática

Por Irineu Moreira da Costa

Escolas Reunidas Astolfo Leão Borges (Escola Municipal).
Construída no início dos anos 50.


Eu estudei aí. Comecei em 1966. Lembro-me dos nomes de alguns professores, como Eduardo Yamada, Padre Eduardo, Padre Pedro, Euripedes Fratari Junqueira, conhecido por Nenê do Juquinha, algumas freiras e outros. O Diretor era o Sr. Quintiliano Leão Neto, vulgo Chanicão, que também era professor de matemática. Naquela época ele (Sr. Quintiliano ou Chanicão) já era homem idoso, porém enérgico, irônico, e tinha voz firme. 

Os meus colegas de classe diziam que o diretor era "um cão na matemática", já que sabia tudo de cor. Realmente, o diretor Chanicão era bom na matemática. Ele tinha o costume de passar várias questões de adição e subtração de frações ordinárias que eram situações criadas por ele no momento. Quando terminava de passar as questões já dava o resultado na hora sem fazer nenhum cálculo. Talvez para impressionar, ele ainda dizia com voz firme e compassada: "se não der a resposta que eu disse engulo esse quadro sem beber água!".

Os alunos gastavam um bom tempo fazendo os cálculos. Chegavam a preencher de uma a duas páginas do caderno. O resultado era o anunciado previamente por ele. Os alunos ficavam impressionados e diziam que o diretor era mesmo "um cão na matemática".

Numa determinada aula descobri o segredo, ou seja, o recurso que ele usava para dar uma resposta antecipada. Na medida em que ele escrevia no quadro as questões matemáticas ia também calculando mentalmente. Por isso, ele tinha o cuidado de escrever frações mais fáceis de calcular, como se vê do exemplo a seguir: 2/4 (dois quartos) mais 3/6 (três sextos), mais 2/1 (dois sobre um), menos 1/2 (um sobre dois, ou um meio), é igual a 2 1/2 (dois inteiros e um meio).

Agora, para você entender melhor, vamos fazer os cálculos mentalmente, do exemplo acima: Ora, 2/4 + 3/6 = 1, porque 2/4 é a metade de um inteiro, assim como 3/6 também é pelo fato de o numerador ser a metade do denominador. Prosseguindo, temos 2/1 que equivale a dois inteiros, com mais 1 da primeira soma, encontramos o valor de 3/1 (três sobre um ou três inteiros). Estes 3/1 (três sobre um ou três inteiros) menos 1/2 (um meio), a resposta será 2 1/2, ou seja, (dois inteiros e um meio).

Parece complicado mas não é. Descobri este ardil do famoso matemático ao observá-lo com interesse. Foi aí que eu, para impressionar os colegas, disse-lhes: "Eu também sou capaz de antecipar a resposta. Vejam: tanto mais tanto, menos tanto e mais tantos inteiros é igual a tanto. Se não der, eu também engulo o quadro sem beber água!". Os colegas duvidaram: "Essa proeza só o Chanicão pode fazer!". Nesse momento eu disse aos colegas: "Façam os cálculos, minha gente!" Após os cálculos a resposta foi exatamente a que eu havia previsto. Meus colegas ficaram espantados comigo e me crivaram de perguntas.

Dengue em FOCO

                                                       

A dengue é uma febre viral transmitida pelo mosquito aedes aegypti (foto acima). Em sua forma mais branda, a doença afeta cerca de 50 milhões de pessoas a cada ano.  Não há tratamento preventivo – não existe vacina – nem tratamento curativo específico para a dengue. A melhor forma de se evitar a dengue é combater os focos de acúmulo de água, locais propícios para a criação do mosquito transmissor da doença. Para isso, é importante não acumular água em latas, embalagens, copos plásticos, tampinhas de refrigerantes, pneus velhos, vasinhos de plantas, jarros de flores, garrafas, caixas d´água, tambores, latões, cisternas, sacos plásticos e lixeiras, entre outros.


Dicas para combater o mosquito e os focos de larvas
























Aprenda a fazer uma armadilha para combater o mosquito da dengue




Criada por um professor do Rio de Janeiro, a mosquitérica é um dispositivo feito com garrafa pet e que tem como função aprisionar o mosquito da dengue. O dispositivo foi utilizado em uma pesquisa do Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM) aplicada em quatro cidades da região.

Funcionamento da mosquitérica: 
Ao lixar o funil da armadilha, a superfície áspera propicia o aumento da evaporação, atraindo as fêmeas do mosquito. Estas colocam os ovos um pouco acima da linha da água. Ao chover ou quando se adiciona mais água à armadilha, os ovos são hidratados e deles eclodem as larvas que passam pelo microtule para o interior da armadilha em busca de alimento (microrganismos na água). As larvas vão se desenvolver e não retornarão para o meio externo, pois não conseguem mais passar pelo microtule. Importante saber: A mosquitérica foi criada pelo Prof. Maulori Cabral e a equipe da UFRJ. Esta armadilha captura vários tipos de mosquitos e representa uma forma barata e ecologicamente correta de se controlar a proliferação destes insetos.



Recomendações: 
Monitoramento
Observar:
- Se a armadilha está em local fresco e sombreado;
- Se o copo e o funil (partes da garrafa) estão bem vedados;
- Diariamente checar o nível da água e completar até a marca indicada pela tirinha de fita isolante;
- O estado de conservação do microtule;
- Se as larvas presas na mosquitérica são do Aedes aegypti. Para isso, utilize o foco de luz de uma lanterna e ilumine as larvas;